Entenda o ‘acordo’ que levou Celsinho da Vila Vintém de volta à cadeia
Condenado por tráfico de drogas, roubo e organização de quadrilha, Celsinho foi solto em 2022 e dizia levar uma vida fora do crime. Mas a polícia afirma que...

Condenado por tráfico de drogas, roubo e organização de quadrilha, Celsinho foi solto em 2022 e dizia levar uma vida fora do crime. Mas a polícia afirma que o veterano jamais deixou de articular entre as facções. Entenda o ‘acordo’ que levou Celsinho da Vila Vintém de volta à cadeia O acordo triplo entre uma pequena milícia de Curicica, o Comando Vermelho (CV) e a Amigos dos Amigos (ADA) foi a base para que a maior facção criminosa do RJ buscasse retomar territórios perdidos para paramilitares na região de Santa Cruz. Essa aliança levou Celso Luiz Rodrigues, o Celsinho da Vila Vintém — fundador da ADA e um dos traficantes há mais tempo em atividade no estado — de volta à cadeia. Ele foi preso na manhã desta quinta-feira (8) dentro da Operação Contenção, contra a expansão do CV na Zona Oeste do Rio de Janeiro. “O Celsinho volta para o lugar de onde nunca deveria ter saído: a prisão”, declarou o secretário de Segurança Pública, Victor Santos. “Desde que saiu da cadeia, disse que era criador de porcos, mas na realidade era fachada para continuar comandando uma facção criminosa.” Qual foi o acordo? Condenado por tráfico de drogas, roubo e organização de quadrilha, Celsinho foi solto em 2022 e dizia levar uma vida fora do crime. A ADA, que surgiu de um racha no CV, chegou a ser a 2ª maior facção do RJ, mas foi perdendo terreno e prestígio nos últimos anos para o Terceiro Comando Puro (TCP). Recentemente, “sobrevivia” somente na Vila Vintém. A polícia afirma que Celsinho nunca abandonou o crime e, para ampliar a venda de drogas, costurou um acordo, primeiro com André Costa Bastos, o Boto. Boto era chefe de uma milícia que dominava parte de Curicica, na Zona Oeste, e não era alinhado aos grandes grupos paramilitares da Grande Santa Cruz. Segundo as investigações, mesmo preso em presídio federal, Boto “arrendou” a Vila Sapê para Celsinho. Assim, ele passou a vender entorpecentes lá. Curicica, no entanto, é muito próxima da Cidade de Deus, controlada pelo Comando Vermelho. A polícia afirma que Celsinho então procurou Edgar Alves de Andrade, o Doca ou Urso, chefe da facção, e lhe propôs uma aliança. Primeiro, um pacto de não agressão: a “nova” ADA poderia traficar em Curicica, mas não atrapalharia os negócios do CV na Cidade de Deus. O acordo foi além. A Vila Vintém e Realengo, redutos da ADA, passariam a servir de base para o CV tentar tomar (ou retomar) áreas da milícia mais a oeste do município, como em Santa Cruz. LEIA TAMBÉM: Quem é Celsinho? Celsinho da Vila Vintém foi preso nesta quinta-feira (8) Reprodução A investigação começou no dia 26 de fevereiro, com a prisão em flagrante de 8 traficantes armados na Vila Sapê. Os homens contaram terem sido enviados da Vila Vintém por Celsinho para assumir a localidade, com o aval de Boto. A ocupação ocorreu sem resistência, o que chamou a atenção da inteligência da Polícia Civil e revelou a aliança criminosa inédita. A apuração se aprofundou e identificou o pacto ADA-CV. “Existia uma aliança estratégica entre o Celsinho, o Boto e o Doca para tomarem outras áreas da Zona Oeste. Com essa aliança, eles buscam atuar em áreas do ADA que passam despercebidas, mas estão fortalecidas”, disse o secretário de Polícia Civil, Felipe Curi. Com base nos depoimentos de traficantes presos, provas técnicas, movimentações prisionais e interceptações, o inquérito concluiu que Celsinho, Doca e Boto estavam no comando de uma associação criminosa voltada à exploração do tráfico de drogas em áreas estratégicas da Zona Oeste, utilizando armamento pesado, coação a moradores, homicídios e divisão territorial previamente pactuada. “É um absurdo, um traficante que dizia que estava reintegrado, e que na verdade estava se articulando com facções criminosas. Não podemos permitir. Preso faccionado não pode ter nenhum direito — tem que cumprir a pena integralmente fechado. Sejam presos do CV, ADA, TCP ou milicianos. Eles não podem ter benefícios, porque a polícia terá que fazer um retrabalho”, emendou Curi. “Temos declarações de pessoas de facções diferentes e temos conhecimento que eles se uniram para traficar drogas — esses entorpecentes ostentavam símbolos dos Amigos dos Amigos — e isso causou estranheza em áreas de milícia”, detalhou o delegado Marcus Buss, da 32ª DP (Taquara). Celsinho da Vila Vintém foi preso nesta quinta-feira (8) Reprodução